Ana Paula Lima, in Jornal de Notícias
Efeitos da contracção na Alemanha estão a repercutir-se nas exportações têxteis e automóveis
A crise declarada na Alemanha não surpreende os empresários portugueses. A retracção já se sentia desde o início do ano e, daqui para a frente, a única esperança é que a estabilidade financeira regresse rapidamente.
A economia alemã está em recessão técnica, depois de dois trimestres de recuo do Produto Interno Bruto (PIB), o que não acontecia desde 2003. O PIB alemão regrediu 0,5% de Julho para Setembro face aos três meses anteriores, e no trimestre de Abril a Junho já tinha diminuído 0,4%. Segundo o Instituto Federal de Estatística (SBA) o colapso da maior economia da Europa deve-se à alta do euro em relação ao dólar, que dificulta as exportações, e à subida dos preços do petróleo. O país enfrenta, ainda, uma quebra nas exportações e uma subida das importações, que foi determinante para a queda do PIB.
As trocas comerciais entre Portugal e a Alemanha estão, para já, a registar uma evolução positiva, como mostram os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), mas entre os sectores que têm aquele país como mercado, as dificuldades estão à vista.
Exportador número um de Portugal para a Alemanha, a indústria automóvel teme que os efeitos da recessão técnica da maior economia da Europa, aliados à política nacional para o sector, não se limitem a prejudicar a produção automóvel mas que agudizem os problemas no sector do comércio em Portugal, adianta o presidente da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), José Ramos.
"Os construtores estão a ajustar a sua produção à diminuição da procura", explica o também presidente do grupo Salvador Caetano, mas isso não é suficiente para evitar o pior. "Na Alemanha, o Governo anunciou medidas de apoio ao sector, que inclui, nomeadamente, a abolição do imposto de circulação. Em Portugal, o Governo vai subir os impostos e as vendas vão, certamente, cair, trazendo desemprego ao sector", alerta José Ramos.
"Não é novidade nenhuma. Estávamos preparados para as más notícias", refere o director da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), sector que tem na Alemanha o seu quarto mercado.
No primeiro semestre, adianta Paulo Vaz, as exportações caíram 4,6%, e para a Alemanha exportou-se menos 9,7%. Com o sector a enfrentar uma quebra das encomendas, que, segundo o director da ATP, ronda os 20 a 30%, o futuro é uma incógnita.
A única esperança é que o Governo tome medidas para introduzir "a confiança nos consumidores. A começar pelo sector financeiro que tem de ajudar os empresários e não condicionar o acesso ao crédito", salienta o director da ATP.